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Peixes mortos na Lagoa Mundaú: Descaso com as comunidades periféricas escancara racismo ambiental

Atualizado: 14 de mar.


Foto: Reprodução


Para os pescadores e marisqueiras que tiram seu sustento da Lagoa Mundaú, o ano de 2024 começou com uma cena desesperadora: milhares de peixes foram encontrados mortos nas margens da lagoa na última segunda-feira (01). O episódio acontece dias após o colapso da mina 18.


Enquanto o prefeito anunciava mais uma dezena de shows com cahê exorbitantes, mesmo afirmando continuamente que não há verba para a cultura (ao que parece, apenas para a local), a população dos bairros periféricos banhados pelas águas do mundaú, como o Vergel do Lago e a Levada, iniciavam mais um ciclo de sofrimento com o descaso da gestão pública e com o racismo ambiental.


Mas a negligência com a população periférica e negra já é algo comum em Maceió. Em maio do ano passado, o prefeito de Maceió, João Henrique Caldas, fechou um acordo no valor indenizatório de R$ 1,7 bilhão com a empresa Braskem, mas, apesar do sofrimento da população socioeconomicamente ilhada na região dos Flexais, no bairro de Bebedouro, não houve nenhuma preocupação, por parte do município, em direcionar recursos para a resolução do problema, o que reflete todo o racismo ambiental sofrido pelas comunidades marginalizadas durante o esvaziamento compulsório da região.


Racismo ambiental é um termo usado para tratar da forma desproporcional como impactos ambientais negativos afetam as comunidades. No “Caso Pinheiro”, como foi tratado por muito tempo o crime cometido pela Braskem, enquanto a população dos bairros de classe média, como o próprio Pinheiro, tiveram suas queixas aparadas pela classe política e pelo poder público após os primeiros tremores, os pescadores que tiram seu sustento da Lagoa Mundaú e os moradores dos Flexais seguem lutando para escapar da catástrofe que os cerca.


Por isso, a luta racial está diretamente ligada ao combate à degradação ambiental. A falta de acesso à moradia digna e segura, de saneamento básico, a invisibilização do poder público são problemas que atingem as populações periféricas que são, em sua maioria, negras. É necessário que se leve em consideração o impacto desproporcional das mudanças climáticas nas regiões periféricas, que ainda sofrem sofrem a implementação desigual de políticas públicas.


Para mudar essa realidade, é preciso que o movimento negro tenha voz ativa na tomada de decisões que dizem respeito a justiça ambiental, pautando as questões de raça na elaboração de políticas públicas e em projetos de reparação de danos, como o acordado com a Braskem.

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